II Festival Internacional de Canção Popular (1968)

A edição de 1968 entrou para a história da MPB pela tônica de protesto ao regime militar, tanto nas canções como na reação do público. Sabiá, de Tom Jobim e Chico Buarque de Hollanda, interpretada por Cynara e Cybele, venceu o festival, a despeito das vaias da plateia, que preferia Para Não Dizer que Não Falei de Flores. A música de Geraldo Vandré, interpretada pelo próprio autor e notabilizada como hino contra a repressão política da época, ficou em segundo lugar. Andança, de Paulinho Tapajós, Danilo Caymmi e Edmundo Souto, interpretada por Beth Carvalho e os Golden Boys, ficou em terceiro. Sabiá também venceria a fase internacional do festival.

Nesta edição, as eliminatórias foram divididas em duas fases: a primeira em São Paulo, realizada no Teatro da Pontifícia Universidade Católica (Tuca), e a segunda no Maracanãzinho – onde também foi promovida a grande final. As eliminatórias paulistas foram realizadas nos dias 12 e 14 de setembro de 1968, e a segunda no dia 14. No domingo seguinte, dez das 24 músicas apresentadas nos dias anteriores disputaram vagas na segunda fase das eliminatórias, realizada nos dias 26 e 28 de setembro, no Rio. A grande final aconteceu no dia 29 daquele mês.

Entre os compositores cujas canções foram defendidas na edição de 1968 (além dos já citados Tom Jobim, Chico Buarque de Hollanda e Geraldo Vandré), estavam Jorge Ben Jor (na época, apenas Jorge Ben, com Congada), Caetano Veloso (É Proibido Proibir), Toquinho e Vanzolini (Na Boca da Noite), Sérgio Ricardo (Canção do Amor Armado), Tom Zé (Sem Entrada, Sem Mais Nada), Gilberto Gil (Questão de Ordem), Renato Teixeira (Era Azul), Os Mutantes (Caminhante Noturno) e Johnny Alf (Plenilúnio), entre outros.

Onde Anda Iolanda, de Rolando Boldrin, interpretada por ele mesmo, foi uma das canções mais aplaudidas nas eliminatórias. Outro destaque foi Na Boca da Noite, de Toquinho e Paulo Vanzolini, defendida pelo conjunto vocal Canto 4. Geraldo Vandré também conquistou o público com a letra de Para Não Dizer que Não Falei de Flores, cujo refrão era basicamente o que o público queria dizer contra o regime militar: “Vem, vamos embora/que esperar não é saber/quem sabe faz a hora/não espera acontecer”.

Na etapa paulista, Caetano Veloso foi vaiado no Teatro Tuca quando cantou com Os Mutantes a música É Proibido Proibir, de sua autoria. Quando o público virou-lhe as costas, o cantor proferiu um discurso que se tornou célebre. “Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? [...] A mesma juventude que vai sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! [...] Se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos!”, bradou, ironicamente, Caetano Veloso.

Vaia igualmente intensa só foi ouvida no anúncio dos vencedores, iniciada tão logo foi anunciado o segundo lugar para Para Não Dizer que Não Falei de Flores. Geraldo Vandré entrou no palco sob gritos do público, inconformado com o resultado. As vaias só foram interrompidas quando o músico começou a entoar a canção, sendo acompanhado por um coro de quase 20 mil vozes. Por fim, quando Sabiá foi anunciada a vencedora, mais vaias – Cynara e Cybele, as intérpretes, mal conseguiram cantá-la.

- Fonte: http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/musicais-e-shows/festival-internacional-da-cancao/1968.htm
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