Você provavelmente já ouviu falar da ayahuasca, também conhecida como santo-daime, uma droga psicodélica tradicionalmente usada por tribos indígenas da Amazônia brasileira.
Nos últimos anos, a droga tem feito manchetes e levantado polêmicas, mas, para nosso contento, a ciência resolveu investigá-la para entendermos melhor seus efeitos.
Os resultados são bastante surpreendentes: um novo estudo britânico descobriu que ela pode melhorar o senso geral de bem-estar das pessoas, com potencial para se transformar em um tratamento para alcoolismo e depressão, entre outros distúrbios mentais.
Vai um chá aí?
Pesquisas anteriores já haviam sugerido que drogas psicodélicas, como LSD e cogumelos mágicos, podiam ajudar os alcoólatras a enfrentar seu vício.
Usando dados do Global Drug Survey, com informações mais de 96 mil pessoas em todo o mundo, pesquisadores da Universidade de Exeter e da Universidade College London descobriram que usuários de ayahuasca relataram menor problema de uso de álcool do que usuários de LSD ou cogumelos mágicos.
Os usuários de ayahuasca também relataram maior bem-estar geral nos últimos 12 meses do que outros entrevistados na pesquisa.
“Essas descobertas contribuem para a noção de que a ayahuasca poderia ser uma ferramenta importante e poderosa no tratamento da depressão e transtornos do consumo de álcool”, afirmou um dos autores do estudo, Dr. Will Lawn, da Universidade College de Londres.
Opa, não vai um chá aí não
Se você está lendo esse artigo e tendo ideias erradas ao mesmo tempo, já aviso que não adianta você decidir, por conta própria, tomar santo-daime porque quer beber menos ou se curar de alguma coisa, no entanto.
Os pesquisadores fizeram questão de salientar que esses dados são puramente observacionais e não demonstram causalidade – ou seja, pode ser apenas uma coincidência.
Além disso, os usuários de ayahuasca desta pesquisa ainda tinham um consumo médio de álcool que poderia ser considerado perigoso.
No futuro, estudos randomizados controlados devem ser realizados para que possamos determinar de fato a habilidade da ayahuasca de ajudar a tratar transtornos de humor e dependência.
Metodologia
Apesar de seus limites, a pesquisa ainda é notável por ser a maior com usuários de ayahuasca já concluída até o momento.
A droga – uma mistura das plantas Psychotria viridis e Banisteriopsis caapivine – é usada principalmente por tribos indígenas e grupos religiosos na região amazônica e seus visitantes. Ela contém dimetiltriptamina (DMT), um composto ilegal em muitos países.
Dos entrevistados deste estudo, 527 eram usuários de ayahuasca, 18.138 de LSD ou cogumelos mágicos e 78.236 não usavam drogas psicodélicas.
A pesquisa online, promovida através de mídias sociais, mediu o bem-estar dos participantes usando o Índice de Bem-estar Pessoal, uma ferramenta já testada por pesquisadores de todo o mundo que questiona coisas como relações pessoais, conexão com a comunidade e senso de realização.
Também perguntou às pessoas sobre suas experiências com a ayahuasca, e a maioria dos usuários disse ter tomado a droga com um curandeiro ou um xamã.
Vício e efeitos colaterais
A ayahuasca foi classificada como menos agradável e seus usuários tinham menos desejo de usá-la de novo do que usuários de LSD ou cogumelos mágicos. Seus efeitos agudos geralmente duravam seis horas, e eram mais fortemente sentidos uma hora após o consumo.
Como desvantagem, a pesquisa mostrou uma maior incidência de diagnósticos de doenças mentais ao longo da vida nos usuários de ayahuasca.
Análises subsequentes descobriram que esse efeito só era visto em usuários de países sem tradição de uso da ayahuasca.
“Se a ayahuasca pode representar um tratamento importante, é fundamental que seus efeitos a curto e longo prazo sejam investigados e sua segurança seja estabelecida. Neste estudo, o uso a longo prazo não afetou a capacidade cognitiva, não produziu dependência e nem piorou os problemas de saúde mental [dos participantes]”, argumentou Celia Morgan, outra pesquisadora do estudo, da Universidade de Exeter.
- Fonte: https://scienceblog.com/497308/traditional-amazonian-drug-linked-improved-sense-wellbeing/
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