O grande aporte de ar quente e úmido que chega da Amazônia, com o Jato de Baixos Níveis (JBN), aliado à pressão atmosférica em queda livre na região da Bacia do Chaco, no Paraguai e o aprofundamento de um ciclone extratropical no Oceano Atlântico, são os principais mecanismos que geram tamanha instabilidade, além é claro, da organização e deslocamento de uma nova frente fria.
A projeção de escoamento do vento sobre o nível de 850 hPa (1.500 metros) gerada a partir do modelo norte-americano GFS mostrou o ingresso do vento amazônico diretamente para o Centro-Sul do continente, que funciona como um “alimentador” das tempestades. A área com efeito de circulação ciclônica (baixa pressão) também esteve evidenciada sobre o nível a nordeste da província de Buenos Aires, na Argentina.
As plotagens, realizadas por sondas meteorológicas em aeroportos para distinguir os perfis termodinâmicos ao longo da coluna troposférica, também foram evidentes ao indicar valores mais elevados de instabilidade atmosférica, o que compete para a maior possibilidade de tempo severo.
A projeção feita para a variável Convective Available Potential Energy (CAPE), vento em 850 hPa e 500 hPa para às 22 horas (Brasília-verão) deste sábado (20) e 01 hora de domingo (21) indicou valores condizentes para a possibilidade de tempo severo entre o oeste, centro e noroeste do Rio Grande do Sul, oeste de Santa Catarina, oeste, sudoeste e noroeste do Paraná e boa parte de Mato Grosso do Sul e São Paulo, além do nordeste da Argentina e em boa parte do Paraguai.
A simulação de precipitação, inicialmente preparada para o estado do Rio Grande do Sul, através do modelo brasileiro COSMO rodado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), mostrou grandes volumes de precipitação para toda a metade sul gaúcha, pelo menos até às 10 horas de domingo, com totais superiores a 100 milímetros e valores ainda mais extremados entre as regiões de Bagé, Canguçu, Quaraí, Pelotas e Santana do Livramento.
Já para o campo de precipitação de precipitação para as próximas 24, 48 e 72 horas, nítido é o prognóstico de deslocamento da grande carga de chuva para as demais áreas do Rio Grande do Sul e de partes de Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo, para logo mais, ainda na primeira metade da próxima semana, afetar boa parte do Centro-Oeste e Sudeste, inclusive às vésperas do Natal.
A previsão mais estendida, para o prazo de até sete dia, segue indicando o retorno da chuva sobre a maior parte do Brasil, inclusive com acumulados acima de 100 milímetros em várias cidades. A projeção é tanto do modelo brasileiro COSMO quando do norte-americano, GFS.
Ambos projetam chuva ainda mais volumosa, entre 150 e 200 milímetros, entre o nordeste e São Paulo e o sul de Minas Gerais, região das represas do Sistema Cantareira.
Voltando ao quadro inicial de tempo severo, os sensores de detecção de raios do Sferics Timing And Ranging Network (STARNET) mostraram uma linha de trovoadas, bastante organizada, percorrendo municípios do centro-sul gaúcho, o que também denuncia a possibilidade de tempo severo.
A varredura feita pelo radar meteorológico de propriedade do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) da Rede de Meteorologia do Comando da Aeronáutica (Redemet) mostrou às 17h15min, o deslocamento de uma organizada e intensa linha de instabilidade, inclusive com pontos assinados pela refletividade do radar indicando até mesmo a possibilidade de supercélulas, que são capazes de induzir à ocorrência de tempestades severas, tais como ventos fortes, chuva torrencial e granizo.
No campo da previsão meteorológica, com ressalva de aviso meteorológico já emitido com antecedência por meteorologistas dos órgãos oficiais brasileiros (Cptec/Inpe e Inmet) e centros regionais de pesquisas (Epagri/Ciram, Simepar e Ipmet), a tendência é de que a última onda de tempo severo de 2014 avance nas próximas horas para norte levando alto potencial para severidade.
Como as temperaturas seguem muito elevadas na dianteira do sistema, o risco de evolução de novos núcleos de tempestades severas e alinhadas é grande, o que tornam as regiões citadas acima passíveis de computarem danos em decorrência de vendavais, chuvas torrenciais e precipitação de granizo e até mesmo de dano semelhante à atividade tornádica (o que somente pode ser mensurado por meteorologistas de órgãos oficiais e mediante dados de imagens, via previsão nowcasting).
Diante dos dados observados e os previstos, a população deve estar atenta para a possibilidade de eventos que possam produzir alagamentos, enxurradas, destelhamentos, quedas de árvores e de postes, interrupção no fornecimento de energia elétrica, telefonia e internet, além de evitar ao máximo exposição em lugar descampado e sob risco iminente de tempo severo.
- Fonte: http://deolhonotempo.com.br/surto-de-tempestades-pode-causar-estragos-no-rs-sc-pr-ms-e-pr/
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