Apesar de ainda ser tabu e de certos setores da sociedade se posicionarem frontalmente contra, o uso medicinal da maconha vem ganhando a comunidade científica no Brasil e no mundo – Uruguai e Canadá são os mais recentes adeptos. A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) deu, no início do mês, um importante passo para a geração de conhecimento com a criação de um grupo multidisciplinar de estudos sobre a maconha. Batizado de Maconhabras, o grupo tem o objetivo de “analisar e discutir diferentes aspectos sobre essa temática”.
A Cannabis sativa – nome científico da planta – já tem um currículo extenso de atuação na prevenção e no tratamento de uma série de doenças e males. “Para um conjunto de doenças degenerativas, inflamatórias e autoimunes há indícios do benefício da maconha. Aqueles que têm comprovação maior são os casos de dor crônica, esclerose múltipla e complemento de tratamentos contra câncer e HIV, que têm efeitos bem agressivos”, revela o médico especialista em medicina preventiva Paulo Fleury Teixeira.
Foi para ajudar no tratamento de um câncer de intestino que a artista plástica Maria Antonia Goulart, 63, começou a usar a substância. “A maconha aliviava os sintomas da radioterapia – dores e sensação de queimação – e da quimioterapia – enjoo, vômito e falta de apetite”, conta. Além disso, a erva tem também uma função psicológica. “Ela te desvia do foco da dor e te faz se sentir melhor”, revela.
Esse segundo efeito é fundamental para o tratamento. “O ‘barato’ da maconha é poderosamente terapêutico. Se a pessoa faz quimioterapia, por exemplo, ela sofre, e isso causa estresse, o que dificulta a recuperação. Se a pessoa experimenta uma sensação de alívio desse estresse, a tranquilidade vai se refletir na fisiologia e melhorar a forma como o organismo vai se recuperar”, explica o neurocientista Renato Malcher, autor do livro “Maconha, cérebro e saúde”.
Esses efeitos já começam a ser conhecidos não só no mundo acadêmico, mas também entre os médicos. “No Hospital do Câncer de São Paulo, onde me tratei, muitas pessoas usavam maconha”, relata Maria Antonia.
Uma pesquisa publicada no site Doutíssima aponta que 13% dos pacientes que usam a Cannabis no tratamento de alguma doença foram orientados por seus médicos. “Eles não indicam, mas se a iniciativa parte do próprio paciente, eles são a favor”, conta a artista plástica que, curada do câncer, agora usa a erva para aliviar as dores de uma fibromialgia, resquício do tratamento.
Pesquisas mais recentes, de Harvard e da Universidade de Complutense, na Espanha, demonstraram que a Cannabis pode mesmo ser uma aliada contra o câncer. Em ambos os estudos, a maconha reduziu tumores em ratos. “O câncer é um sistema inflamatório que sai do controle. Isso afeta o sistema de reprodução celular, e as células afetadas passam a se reproduzir descontroladamente, viram um parasita do organismo e prejudicam o órgão. Como os canabinoides agem nas inflamações, isso explica porque a maconha inibe o câncer”, esclarece Malcher.
A forma mais conhecida de uso da maconha, o fumo, é a menos indicada. “Você está jogando para dentro do pulmão partículas prejudiciais que vão se acumulando”, afirma Melcher. Outras formas de consumo não geram esse problema e diminuem os danos. “A pessoa pode usar um vaporizador, aparelho que aquece a erva, libera o princípio ativo, mas não a queima”, explica o neurocientista.
Como todos os pacientes do Brasil que precisam da Cannabis em seu tratamento, Maria Antonia ainda deve recorrer ao mercado ilegal. É para ter o direito de consumir seu remédio legalmente que ela faz parte da militância para que o uso terapêutico da maconha seja legalizado no Brasil.
- Fonte: http://www.otempo.com.br/pesquisas-mostram-maconha-como-aliada-contra-o-c%C3%A2ncer-1.747333
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