Entrevista com Iara Nassaralla, professora de Ergonomia da Faculdade Estácio de Sá/RJ

Eu, Lica Nnabis, fui perguntar para minha tia como ela estava se sentindo sabendo que meu primo, seu filho de 17 anos, estava indo pras manifestações. Dessa conversa surgiu nossa primeira entrevista!

Segue a conversa e entrevista com Iara Nassaralla, Professora do curso de Pós Graduação de Ergonomia da Faculdade Estácio de Sá e Pesquisadora do Nupi/Uerj na área de Ergonomia e Educação Corporativa –Elaboração de Projetos na AVM (Voz no Mestre) da Candido Mendes.

Lica  –  Meu primo está indo nas manifestações?

Iara  –  Sim, com o pessoal do Pedro II, mas a mãe que era ativista em 70 do diretório acadêmico da UFF na ditadura, que perdeu vários amigos... Esta morrendo de medo, pois agora a historia é outra com esses policiais despreparados e grupos infiltrados.

L – Você era ativista? Olha, não sabia!

Iara – Nossa, pertencia ao grupo Tortura Nunca Mais.

L – Esse aqui http://www.torturanuncamais-rj.org.br/?

Iara – Isso! Os professores na faculdade marcavam com a gente na biblioteca para dar escondidos livros para lermos. Foi assim que conheci O Capital, de Marx. Você sabe que fiz mestrado em políticas públicas, ainda mais na UERJ, cheio de marxista!

L - Iara tem como você escrever pra mim, resumindo sua historia e o que você acha que está acontecendo hoje pra eu postar no nosso blog?

Iara – Claro! Foi revoltante, Depois a primeira greve dos professores em 79, a pressão da direita, dos diretores para retorno imediato nas escolas públicas. Eu era orientadora educacional, perdi meu cargo! Deram-me a pior turma da escola por ter participado ativamente do movimento.

Depois houve um movimento para tirar a diretora nas eleições. Fui candidata à diretora geral e ganhamos a eleição. Minhas diretoras adjuntas foram ameaçadas de morte eu também recebi vários telefonemas para entregar o cargo... O governo era do Brizola, PDT. Depois de varias reuniões e varias ameaças entregamos os cargos. Estavam esperando na Secretaria Municipal, estava tudo armado, tudo pronto, pois naquele CIEP só tinham petistas ativistas... E a educação estava de qualidade.

A minha equipe de professores eram professores formados pelas universidades UFF, UFRJ, PUC, UERJ... Só tínhamos feras e politizados! Na escolha dos professores queríamos fazer uma escola de qualidade. O CIEP era de qualidade e com a saída da diretora só tinha um grupo com intenção de ajudar o CIEP (marginalizado pelo sistema, pois eram alunos de comunidades, alunos excluídos).
Conclusões, depois de tantas ameaças de um sistema que não queria uma educação de qualidade para os excluídos, pressionaram através de bandidos a nossa saída...

Com isso trinta e seis professores saíram, inclusive eu. E nunca mais esses professores se comunicaram, pois cada um foi para escolas diferentes. Por isso que não aguento mais a educação dominada por um aparelho ideológico do Estado.

O sindicato dos professores também foi notificado e me procurou para saber o que aconteceu. Entraram com uma ação na justiça que deu em “pizza”, pois no dia da audiência nenhum advogado do sindicato apareceu. Sindicados comprados! Isso é uma máfia, vocês não tem ideia. É uma manipulação, um desprezo com a educação popular.
István Mészáros filósofo húngaro, fala que o eixo do mundo tem que sair da roda para ir para educação, pois só assim tudo mudará a saúde, a segurança, tudo.

Golpe de Estado - No seu relato percebemos que você foca na educação. Pelo seu conhecimento e vivência, o que você acha que está acontecendo na educação nos dias de hoje? O que mudou? Melhorou, piorou? Continua manipulado e como seria essa manipulação?

Iara - Melhorou, pois atualmente temos a internet aí com vários sites sérios que ajudam a politização e os professores podem os utilizar também. Não existe mais também repressão acadêmica. A falta de politização gera uma manipulação por parte do Estado. A educação é um Aparelho Ideológico do Estado que modela um pensamento individual, que deveria ser COLETIVO. Segundo Saviani os professores tem a faca e o queijo para mudar o país, é ele que forma ou não o “zé povinho”. Infelizmente não há interesse de povo politizado, pois é mais fácil dominar do jeito que está.

Golpe de Estado - Ficamos curiosos quanto à história do sindicato dos professores, conte-nos mais sobre como foi essa ação e porque acabou em "pizza". E você acha que isso ainda ocorre nesse meio atualmente?

Iara - A ação judicial foi para voltarmos ao Ciep, pois fui uma diretoria eleita pela comunidade escolar. Não sei como está atualmente na área da educação, pois já estou aposentada há muitos anos, agora estou trabalhando na área de ergonomia; vejo alguns sindicatos com denúncias ao ministério público na questão trabalhista, vi isso com a nova NR 36 dos abatedouros.

Golpe de Estado - Qual sua opinião sobre as manifestações atuais? Você como uma ativista de diretório acadêmico da década de 70, tem algo a dizer para os jovens ativistas de hoje perante essas manifestações?

Iara - Estou orgulhosa dessa massa jovem indo às ruas reivindicando nossos direitos, é isso mesmo, mas como falei precisam POLITIZAR. Os professores atuais, principalmente os de filosofia, história e sociologia passam isso. Meus alunos ficam motivados quando falo da origem do capitalismo, teoria de mais valia, alienação etc. Parecem que o que falo é coisa nova e são conteúdos do ensino fundamental e médio. Falta enfim CONSCIÊNCIA POLÍTICA. Aí sim teremos um povo consciente indo às ruas.
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