"A maconha marcha, gente boa... Até na Argentina, México e Colômbia está descriminalizada. Os tabus vão sendo quebrados. Aqui, as marchas foram liberadas pelo STF, numa decisão muito louca: pode marchar, mas não pode fumar. Por que será que a maconha provoca tanta inquietação? Evangélicos marcham contra, xingam FHC pelo filme Quebrando o Tabu, "mermão", qual é a deles? É tanto auê, tanta onda por causa de uma mixaria dessas que eu tenho de alugar vocês sobre essa "parada". É... já escrevi sobre esse lance aqui e repito: a maconha não é nada, ou quase nada. Não é uma droga que corrói o fígado como o álcool. Não mata como a cocaína, esse veneno de rato branco que você aspira, depois de malhada pelos afro-negões da favela; é erva natural, não tem o sangue jorrando atrás dela desde a Bolívia até os morros, nem precisa dos bujões de éter no meio da floresta. Não é como o ácido lisérgico que te faz ver uma grande gelatina na realidade, onde tudo se mexe como uma rumba azul. Por que, então, tanto medo?
Está provado que a birita, o cigarro careta fazem muito mais mal que uma frágil "diamba", um reles "bagulho", um baseadinho inocente... Aliás, declaram cientistas e doidões, a maconha faz até bem para o coração de muitos ansiosos; era comprada em qualquer farmácia nos anos 30 com o nome de Cigarros Indianos, lindos pacotinhos com uma índia de cocar colorido, cigarros que acalmavam a angústia das senhoras antigas, combatiam a depressão, as "flores brancas", as dismenorreias, as alvas enxaquecas, os desmaios histéricos, as dores desconhecidas, as insônias. A maconha, dizem os "manos", é o remédio melhor para o glaucoma e dizem que ela produz um relaxo legal nos músculos e uma tranquilidade que poucos calmantes te proporcionam. Muito médico acha que inúmeros remédios e panaceias poderiam advir do refino da mesma, para acalmar velhinhos em asilos, para tranquilizar agitados em suas camisas de força, ervinha que, uma vez fumada antes do ato sexual, provoca prazeres inauditos, podendo não só fazer com que ejaculadores precoces se segurem, quanto frígidas senhoras se soltem e uivem nos laços de um polvo invisível e voltejante, numa teia de loucos estertores entre gritos operísticos.
Isso dizem alguns, não eu, claro, que sou um pobre-diabo, nunca me aproximaria dessa erva do Demônio, dessa "maria juana" temível. Contam alguns que o prazer sexual aumenta muito, já que a noção de tempo também se alonga, ficando tudo em câmera lenta, coisa desagradável se você está num túnel ou num engarrafamento de trânsito, mas que é delicioso não nos dois braços, mas nos cinco braços, ou nas cinco asas brancas de uma mulher amada e que o amor vira uma grande dança num paraíso e que mesmo os lençóis brancos semelham ondas do mar, dependendo da qualidade do "back", que pode ser um "acapulco gold" ou mesmo um "da lata", (oh!!! As maravilhas que contam daquelas latas lançadas por um navio muito louco nas águas da Guanabara em 84 e que até hoje são lembradas por velhos chincheiros). Thomas de Quincey fumava, Baudelaire fumava, Rimbaud queimava altos haxixes em Aden... Em suma, gente boa, como eu dizia acima, dependendo da qualidade da "massa", "nêgo" podia ficar curtindo horas seguidas, ajudado pelo Hendrix, Stones... tudo muito louco.
Mas, a razão deste raciocínio - não posso me perder, "mermão" - é a seguinte transação: por que causa tanta raiva nos caretas? Todo mundo fala em "reacionário", de "esquerda", de "direita" e coisa e tal, e os caretas? Onde ficam? Muito da nossa desgraça política deve-se à caretice. Porque "careta" é o cara que vive com a cara torta, armando uma pose, fingindo que é democrata sem ser, fingindo que é honesto sendo ladrão. Os vícios se escondem atrás de uma "careta", daí a origem da expressão... ah, ah... tá ligado? Pega esses deputados e senadores aí, todos enforcados em gravatas e ternos escrotos e me respondam: por que temem tanto a "diamba", aquela turminha braba que depois da Câmara vai tudo encher a cara com uísque no Piantella, entre peruas, gargalhadas e conchavos, por que essa gangue tem tanto medo do fumo?
A resposta é simples, cara... Diferentemente da coca, da birita e outros bichos, a maconha libera o filho da mãe. O sujeito queima o fumo e dá um "relaxo". A vida fica mais democrática, gente boa; evola-se uma nuvem azulada nos céus, como uma espécie de inconsciente artificial, e o mundo fica diferente, as obsessões perdem a valia, as culpas, os superegos diminuem, e some a sensação de que a vida é uma grande Câmara dos Deputados, onde nunca há quorum para aprovar nossos desejos! Ah!... Ah!... boa comparação... E a vida fica mais bela que o bigode do Sarney ah ah... ou seja, a liberdade que ela provoca no sujeito é, digamos, "incopatível", como é que se diz mesmo? - im-com-pa-tível... ah... ah... essa palavra é muito louca, gente boa, a maconha é "incampatível" com a caretice necessária ao bom exercício da política. Me diz, me diz como um cara vai para a tribuna doidão para armar uma roubalheira? Como enfiar uma maracutaia numa MP com a cara cheia de um "paraguaio com mel", nem mesmo precisa um "skunk" , basta um "pernambuco light"...
Já imaginaram o Congresso muito louco? O Pedro Simon desbundando e indo morar em Trancoso, cheio de fitas no pescoço? O PC do B falando em "revolução interior"? Mas, que eu estava dizendo mesmo?... ah... lembrei... o seguinte: eu acho, numa "boa" mesmo, na "moral", que as autoridades têm medo da maconha porque ela dá uma ilusão de liberdade. Por isso, estão com tanto medo de comida de passarinho... ééé... ééé... Os canários cantam melhor com as sementes de "canabis"... E a sensação de liberdade é, como eu já disse, inco-incopa..."incopatível"...sei lá, deixa pra lá... E tem mais... o seguinte... quer dizer... esqueci... é isso aí, gente boa.... falei..."
- Fonte: http://tinyurl.com/d7huupl
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